quinta-feira, 16 de abril de 2009

RESPOSTA A RODOLFO SARTORI Por que esquecemos as coisas?


Por que esquecemos as coisas?
Para que a gente continue a aprender coisas novas. Esquecer é fisiológico. "Não seria saudável guardar todos os detalhes de todas as nossas experiências", diz o geriatra Weyler Galvão Pôrto, da Unifesp. O cérebro faz uma seleção do que devemos ou não guardar. Assim, impressões que não têm nenhuma importância deixam de ser armazenadas para dar lugar a outras mais relevantes. O problema é quando esquecemos o que gostaríamos de lembrar. Quanto mais concentrada e emocionalmente envolvida a pessoa estiver na hora de receber uma informação nova, maior é a chance de ela resgatá-la depois. Por isso, a falta de atenção tem estreita relação com a falta de memória. Quando a pessoa está dispersa, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo e com preocupações demais, pode simplesmente desligar ao ter contato com um dado novo, deixando de armazená-lo. Há também os famosos brancos.
"A pessoa sabe que tem a informação, mas por estar cansada, emocionalmente desgastada ou sobrecarregada não se lembra", diz a fonoaudióloga Ana Maria Alvarez, autora de um livro sobre o tema chamado Deu Branco. Alimentação ruim, atividade física inadequada, falta de sono, uso de álcool ou drogas e algumas doenças neurológicas degenerativas, como o Alzheimer, também podem afetar a capacidade de memorização.

PLATÃO



PLATÃO

FRASES SOLTAS:

De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar.
Deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são provas de idade e não e prudência.
Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado.
Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.
Uma vida não questionada não merece ser vivida.
Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa.
O livro é um mestre que fala mas que não responde.
O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.
O bom juiz não deve ser jovem, mas ancião, alguém que aprendeu tarde o que é a injustiça, sem tê-la sentido como experiência pessoal e ínsita na sua alma; mas por tê-la estudado, como uma qualidade alheia, nas almas alheias.
No imposto profissional o justo paga mais e o injusto menos, sobre o mesmo rendimento.
Calarei os maldizentes continuando a viver bem; eis o melhor uso que podemos fazer da maledicência.
É possível descobrir mais sobre uma pessoa numa hora de brincadeira do que num ano de conversa.
Os olhos do espírito só começam a ser penetrantes quando os do corpo principiam a enfraquecer.
São muitos os que usam a régua, mas poucos os inspirados.
Onde não há igualdade, a amizade não perdura.
A paz do coração é o paraíso dos homens.
Os filhos dos homens, dentre todos os animais jovens, são os mais difíceis de serem tratados.
Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele.
Tudo quanto vive provém daquilo que morreu.
Todo homem é poeta quando está apaixonado.
Muitos odeiam a tirania apenas para que possam estabelecer a sua.
Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.
Quem ama extremamente, deixa de viver em si e vive no que ama.
A necessidade que é a mãe da invenção.









Mas quem foi Platão?


A Vida e as Obras

Diversamente de Sócrates , que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas, em 428 ou 427 a.C., de pais aristocráticos e abastados, de antiga e nobre prosápia. Temperamento artístico e dialético - manifestação característica e suma do gênio grego - deu, na mocidade, livre curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expressão estética de seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dúvida a precisão e a ordem do seu pensamento, tanto assim que várias partes de suas obras não têm verdadeira importância e valor filosófico.

Aos vinte anos, Platão travou relação com Sócrates - mais velho do que ele quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara.

Daí deu início a suas viagens, e fez um vasto giro pelo mundo para se instruir (390-388). Visitou o Egito, de que admirou a veneranda antigüidade e estabilidade política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar relações com os pitagóricos (tal contato será fecundo para o desenvolvimento do seu pensamento); a Sicília, onde conheceu Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa e travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Caído, porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.

Em Atenas, pelo ano de 387, Platão fundava a sua célebre escola, que, dos jardins de Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona, povoado da Ática, uma herdade, onde levantou um templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano (529 d.C.).

Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela filosofia política. Foi assim que o filósofo, após a morte de Dionísio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em 361 - à Dion, esperando poder experimentar o seu ideal político e realizar a sua política utopista. Estas duas viagens políticas a Siracusa, porém, não tiveram melhor êxito do que a precedente: a primeira viagem terminou com desterro de Dion; na segunda, Platão foi preso por Dionísio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus amigos, estando, então, Arquistas no governo do poderoso estado de Tarento.

Voltando para Atenas, Platão dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi interrompida a não ser pela morte. Esta veio operar aquela libertação definitiva do cárcere do corpo, da qual a filosofia - como lemos no Fédon - não é senão uma assídua preparação e realização no tempo. Morreu o grande Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. Dos 35 diálogos, porém, que correm sob o seu nome, muitos são apócrifos, outros de autenticidade duvidosa.

A forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente didático de Aristóteles. No fundador da Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os elementos puramente racionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a precisão, o método, a terminologia científica que tanto caracterizam os escritos do sábio estagirita.

A atividade literária de Platão abrange mais de cinqüenta anos da sua vida: desde a morte de Sócrates , até a sua morte. A parte mais importante da atividade literária de Platão é representada pelos diálogos - em três grupos principais, segundo certa ordem cronológica, lógica e formal, que representa a evolução do pensamento platônico, do socratismo ao aristotelismo .

O Pensamento: A Gnosiologia
Como já em Sócrates, assim em Platão a filosofia tem um fim prático, moral; é a grande ciência que resolve o problema da vida. Este fim prático realiza-se, no entanto, intelectualmente, através da especulação, do conhecimento da ciência. Mas - diversamente de Sócrates, que limitava a pesquisa filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral - Platão estende tal indagação ao campo metafísico e cosmológico, isto é, a toda a realidade.

Este caráter íntimo, humano, religioso da filosofia, em Platão é tornado especialmente vivo, angustioso, pela viva sensibilidade do filósofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer de todas as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem, onde o corpo é inimigo do espírito, o sentido se opõe ao intelecto, a paixão contrasta com a razão. Assim, considera Platão o espírito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu fim, isto é, chegar à contemplação do inteligível, para o qual é atraído por um amor nostálgico, pelo eros platônico.

Platão como Sócrates, parte do conhecimento empírico, sensível, da opinião do vulgo e dos sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutável. A gnosiologia platônica, porém, tem o caráter científico, filosófico, que falta a gnosiologia socrática, ainda que as conclusões sejam, mais ou menos, idênticas. O conhecimento sensível deve ser superado por um outro conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto no conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se elementos que não se podem explicar mediante a sensação. O conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, não pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua característica a universalidade, a imutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode o conhecimento sensível explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que estão efetivamente presentes no espírito humano, e se distinguem diametralmente de seus opostos, fealdade, erro e mal-posição e distinção que o sentido não pode operar por si mesmo.

Segundo Platão, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em dois graus: o conhecimento sensível, particular, mutável e relativo, e o conhecimento intelectual, universal, imutável, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele não se pode derivar. A diferença essencial entre o conhecimento sensível, a opinião verdadeira e o conhecimento intelectual, racional em geral, está nisto: o conhecimento sensível, embora verdadeiro, não sabe que o é, donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o saber; ao passo que o segundo, além de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o é, não podendo de modo algum ser substituído por um conhecimento diverso, errôneo. Poder-se-ia também dizer que o primeiro sabe que as coisas estão assim, sem saber porque o estão, ao passo que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente assim como estão, precisamente porque é ciência, isto é, conhecimento das coisas pelas causas.

Sócrates estava convencido, como também Platão, de que o saber intelectual transcende, no seu valor, o saber sensível, mas julgava, todavia, poder construir indutivamente o conceito da sensação, da opinião; Platão, ao contrário, não admite que da sensação - particular, mutável, relativa - se possa de algum modo tirar o conceito universal, imutável, absoluto. E, desenvolvendo, exagerando, exasperando a doutrina da maiêutica socrática, diz que os conceitos são a priori, inatos no espírito humano, donde têm de ser oportunamente tirados, e sustenta que as sensações correspondentes aos conceitos não lhes constituem a origem, e sim a ocasião para fazê-los reviver, relembrar conforme a lei da associação.

Aqui devemos lembrar que Platão, diversamente de Sócrates, dá ao conhecimento racional, conceptual, científico, uma base real, um objeto próprio: as idéias eternas e universais, que são os conceitos, ou alguns conceitos da mente, personalizados. Do mesmo modo, dá ao conhecimento empírico, sensível, à opinião verdadeira, uma base e um fundamento reais, um objeto próprio: as coisas particulares e mutáveis, como as concebiam Heráclito e os sofistas. Deste mundo material e contigente, portanto, não há ciência, devido à sua natureza inferior, mas apenas é possível, no máximo, um conhecimento sensível verdadeiro - opinião verdadeira - que é precisamente o conhecimento adequado à sua natureza inferior. Pode haver conhecimento apenas do mundo imaterial e racional das idéias pela sua natureza superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Platão - transcende inteiramente o mundo empírico, material, em que vivemos.

Teoria das Idéias
Sócrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da ciência. Platão aprofunda-lhe a teoria e procura determinar a relação entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto de partida da sua filosofia.












A ciência é objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora, de um lado, os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos (Sócrates), do outro, tudo no mundo é individual, contigente e transitório (Heráclito). Deve, logo, existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idéias. As idéias não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, são realidades objetivas, modelos e arquétipos eternos de que as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a idéia de homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Todas as idéias existem num mundo separado, o mundo dos inteligíveis, situado na esfera celeste. A certeza da sua existência funda-a Platão na necessidade de salvar o valor objetivo dos nossos conhecimentos e na importância de explicar os atributos do ente de Parmênides, sem, com ele, negar a existência do fieri. Tal a célebre teoria das idéias, alma de toda filosofia platônica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.

A Metafísica
As Idéias
O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo divino das idéias; e estas contrapõe-se amatéria obscura e incriada. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo e as almas, através de que desce das idéias à matéria aquilo de racionalidade que nesta matéria aparece.

O divino platônico é representado pelo mundo das idéias e especialmente pela idéia do Bem, que está no vértice. A existência desse mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base ontológica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual. Esse conhecimento, aliás, se impõe ao lado e acima do conhecimento sensível, para poder explicar verdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo ideal é provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso mundo imperfeito participa e a que aspira.

Visto serem as idéias conceitos personalizados, transferidos da ordem lógica à ontológica, terão consequentemente as características dos próprios conceitos: transcenderão a experiência, serão universais, imutáveis. Além disso, as idéias terão aquela mesma ordem lógica dos conceitos, que se obtém mediante a divisão e a classificação, isto é, são ordenadas em sistema hierárquico, estando no vértice a idéia do Bem, que é papel da dialética (lógica real, ontológica) esclarecer. Como a multiplicidade dos indivíduos é unificada nas idéias respectivas, assim a multiplicidade das idéias é unificada na idéia do Bem. Logo, a idéia do Bem, no sistema platônico, é a realidade suprema, donde dependem todas as demais idéias, e todos os valores (éticos, lógicos e estéticos) que se manifestam no mundo sensível; é o ser sem o qual não se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus platônico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - é, pelo contrário, dotado o Demiurgo o qual, embora superior à matéria, é inferior às idéias, de cujo modelo se serve para ordenar a matéria e transformar o caos em cosmos.

As Almas
A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idéias e a matéria, à qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em dependência de uma ação do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no homem como nos outros seres, porquanto Platão é um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, dá à alma humana um lugar e um tratamento à parte, de superioridade, em vista dos seus impelentes interesses morais e ascéticos, religiosos e místicos. Assim é que considera ele a alma humana como um ser eterno (coeterno às idéias, ao Demiurgo e à matéria), de natureza espiritual, inteligível, caído no mundo material como que por uma espécie de queda original, de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um cárcere; esta libertação, durante a vida terrena, começa e progride mediante a filosofia, que é separação espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, então, na realidade, a alma do corpo.










A faculdade principal, essencial da alma é a de conhecer o mundo ideal, transcendental: contemplação em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ação moral. Entretanto, sendo que a alma racional é, de fato, unida a um corpo, dotado de atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princípio de uma e outra. Segundo Platão, tais funções seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascível(ímpeto), que residiria no peito, e a concupiscível (apetite), que residiria no abdome - assim como a alma racional residiria na cabeça. Naturalmente a alma sensitiva e a vegetativa são subordinadas à alma racional.

Logo, segundo Platão, a união da alma espiritual com o corpo é extrínseca, até violenta. A alma não encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma está no corpo como num cárcere, o intelecto é impedido pelo sentido da visão das idéias, que devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das tendências. E, apenas mediante uma disciplina ascética do corpo, que o mortifica inteiramente, e mediante a morte libertadora, que desvencilha para sempre a alma do corpo, o homem realiza a sua verdadeira natureza: a contemplação intuitiva do mundo ideal.

O Mundo
O mundo material, o cosmos platônico, resulta da síntese de dois princípios opostos, as idéias e a matéria. O Demiurgo plasma o caos da matéria no modelo das idéias eternas, introduzindo no caos a alma, princípio de movimento e de ordem. O mundo, pois, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), e é o devir ordenado, como o adequado conhecimento sensível está entre o saber e o não-saber, e é a opinião verdadeira. Conforme a cosmologia pampsiquista platônica, haveria, antes de tudo, uma alma do mundo e, depois, partes da alma, dependentes e inferiores, a saber, as almas dos astros, dos homens, etc.

O dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do não-ser, da ordem e da desordem, do bem e do mal, que aparecem no mundo. Da idéia - ser, verdade, bondade, beleza - depende tudo quanto há de positivo, de racional no vir-a-ser da experiência. Da matéria - indeterminada, informe, mutável, irracional, passiva, espacial - depende, ao contrário, tudo que há de negativo na experiência.

Consoante a astronomia platônica, o mundo, o universo sensível, são esféricos. A terra está no centro, em forma de esfera e, ao redor, os astros, as estrelas e os planetas, cravados em esferas ou anéis rodantes, transparentes, explicando-se deste modo o movimento circular deles.

No seu conjunto, o mundo físico percorre uma grande evolução, um ciclo de dez mil anos, não no sentido do progresso, mas no da decadência, terminados os quais, chegado o grande ano do mundo, tudo recomeça de novo. É a clássica concepção grega do eterno retorno, conexa ao clássico dualismo grego, que domina também a grande concepção platônica.

© Texto elaborado por Rosana Madjarof

OBRAS UTILIZADAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.


FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.


PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.


VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos, Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.


Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.

quinta-feira, 26 de março de 2009

SÓCRATES


A Vida


Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses políticos. Quanto à família, podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal na quérula Xantipa; mas também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado com outros cuidados que não os domésticos.
Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria.

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Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.
Método de Sócrates
É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, oconceitoque se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironiasocrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias.
Doutrinas Filosóficas
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Em teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça".
Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do sistema.
Gnosiologia
O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático"conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
A Moral
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.
Escolas Socráticas Menores
A reforma socrática atingiu os alicerces da filosofia. A doutrina do conceito determina para sempre o verdadeiro objeto da ciência: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez e com laços indissolúveis a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é, pois, de admirar que um homem, já aureolado pela austera grandeza moral de sua vida, tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre os contemporâneos tamanha influência. Entre os seus numerosos discípulos, além de simples amadores, como Alcibíades e Eurípedes, além dos vulgarizadores da sua moral (socratici viri), como Xenofonte, havia verdadeiros filósofos que se formaram com os seus ensinamentos. Dentre estes, alguns, saídos das escolas anteriores não lograram assimilar toda a doutrina do mestre; desenvolveram exageradamente algumas de suas partes com detrimento do conjunto.
Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado, nem deixou algo de escrito; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indiretamente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual, mediante o pensamento socrático, valoriza o pensamento dos pré-socráticos desenvolvendo-o em sistemas vários e originais. Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas. Estas - mesmo diferenciando-se bastante entre si - concordam todas pelo menos na característica doutrina socrática de que o maior bem do homem é a sabedoria. A escola socrática maior é a platônica; representa o desenvolvimento lógico do elemento central do pensamento socrático - o conceito - juntamente com o elemento vital do pensamento precedente, e culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta escola começa a decadência e desenvolver-se-ão as escolas socráticas menores.
São fundadores das escolas socráticas menores, das quais as mais conhecidas são:
1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e abusou dos processos dialéticos de Zenão.
2. A escola cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445), que, exagerando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, degenerou, por último, em verdadeiro desprezo das conveniências sociais. São bem conhecidas as excentricidades de Diógenes.
3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo, (n. c. 425) que desenvolveu o utilitarismo do mestre em hedonismo ou moral do prazer. Estas escolas, que, durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles , verdadeiros continuadores da tradição socrática, vegetaram na penumbra, mais tarde recresceram transformadas ou degeneradas em outras seitas filosóficas. Dentre os herdeiros de Sócrates, porém, o herdeiro genuíno de suas idéias, o seu mais ilustre continuador foi o sublime Platão.
© Texto elaborado por Rosana Madjarof

OBRAS UTILIZADAS

DURANT, Will, História da Filosofia - A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, São Paulo, Editora Nacional, 1.ª edição, 1926.
FRANCA S. J., Padre Leonel, Noções de História da Filosofia.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.
VERGEZ, André e HUISMAN, Denis, História da Filosofia Ilustrada pelos Textos, Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 4.ª edição, 1980.
Coleção Os Pensadores, Os Pré-socráticos, Abril Cultural, São Paulo, 1.ª edição, vol.I, agosto 1973.

Elaborado e Idealizado por Rosana Madjarof — Mantido por Carlos Duarte

terça-feira, 10 de março de 2009

AULA DIA 12 DE MARÇO

DEBATE SOBRE O TEXTO
PONTOS PARA REFLEXÃO
1. QUAIS SÃO AS CRENÇAS E TRADIÇÕES QUE NOS IMPEDEM DE COMPREENDER A REALIDADE?
2. COMO VENCER O SENSO COMUM E A PRÓPRIA IGNORÂNCIA?
3. COMO VOCÊ INTERPRETA ESSA PASSAGEM DO TEXTO: Não vemos nada além daquilo que nos obrigaram a ver, não repetimos nada além daquilo que nos ensinaram a repetir, não mudamos nada em nós porque não desejamos ser como o prisioneiro que fugiu da caverna e que foi desacreditado, queremos ser iguais, acreditar no que todos acreditam, viver, como todos vivem.
4. Arthur Shopenhauer, filósofo alemão, disse um dia que a verdade atravessa três fases:"Na primeira ela é ridicularizada; Na segunda contrariada; Na terceira, é aceita como o própria prova". PENSE NUM EXEMPLO QUE ILUSTRE ESSE PENSAMENTO.
5. PENSE: O comodismo. Esse tipo de grilhão sufoca a mente e o corpo, e embora seja simbólico e não físico, acaba sendo ainda pior que as correntes de aço que Platão usava em sua teoria, pois na Teoria das Idéias elas prendiam somente a matéria, e a corrente do comodismo e da alienação prende a mente e a vontade de conhecer a realidade. COMO VOCÊ INTERPRETA ESSA QUESTÃO LEVANTADA PELA AUTORA DO TEXTO?
6. O QUE VOCÊ ENTENDEU SOBRE ESSE POSICIONAMENTO: Sendo moldados Ética, Moral e Esteticamente pelos padrões da nossa exigente sociedade, através das microrelações e dos micropoderes que sofremos e que, poderemos vir a exercer sobre os outros
7. ANALISE ESSE TRECHO QUE FAZ UMA REFERÊNCIA AO PENSAMENTO DE NIETZSCHE: E o que seria essa verdade ? Nietzsche, em seu livro "Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral" nos responde:[...] a verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. (...)Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.
8. Não queremos saber o que poderíamos ter feito ou o que poderíamos ter sido, não queremos deixar esse lugar seguro que nos mostra sombras que nos alegram, mentiras nas quais desejamos continuar acreditando.Dentro da Caverna nós não somos o que queremos ser, não vemos o que queremos ver, não pensamos o que queremos pensar, nós somos o que os homens de um passado distante foram e nos adestraram a ser. DÊ SUA OPINIÃO A RESPEITO.
9. E surge a questão:o que somos para nós mesmos enquanto dentro da Caverna? O que representamos para o Mundo enquanto levamos essa vida social em forma de rebanho?
10. EXPLIQUE: Einstein explicou isso de forma sutil ao dizer: "Quando uma mente se abre à uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original. Quando se sai da Caverna e se enxerga a realidade, se torna impossível conviver com a mentira.

quinta-feira, 5 de março de 2009

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ATIVIDADE EM SALA DE AULA - 26/02/2009





ATIVIDADE DE FILOSOFIA
PROF. PAULÃO

A CRIAÇÃO DO MITO




Forme um grupo com seis integrantes
Escolha um dos seguintes temas:
a) Origem da vida
b) Origem da dor
c) Origem da morte
d) Origem da felicidade
Debata em grupo prováveis explicações mitológicas para o item escolhido. Após crie uma breve dramatização sobre as conclusões do grupo. Um aluno pode narrar enquanto os outros dramatizam o texto.
Tempo para elaboração: 15 minutos
Tempo para apresentação: 05 minutos

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DESAFIO: SOME ATITUDES POSITIVAS

LANÇO UM DESAFIO.
PERCEBI QUE MUITOS ALUNOS E ALUNAS ESTÃO ENVOLVIDOS COM MÚSICAS. TENHO UMA PROPOSTA: QUEM CONSEGUIR ELABORAR UMA LETRA, MUSICAR E SE APRESENTAR NO DIA DA AULA SOBRE O MITO DA CAVERNA (PRIMEIRA AULA DE MARÇO) GANHARÁ BONIFICAÇÕES PARA A MÉDIA DE FILOSOFIA.
O ESTILO MUSICAL É LIVRE.
SERÃO AVALIADOS OS SEGUINTES ITENS:
1. CONTEÚDO ESPECÍFICO TRABALHADO NA MÚSICA
2. COERÊNCIA DO TEXTO MUSICADO.
AGORA É COM VOCÊS!!!
PROF. PAULÃO

PARA A PRIMEIRA AULA DE MARÇO - O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO

ASSISTA AO CLIPE E LEIA COM ANTECEDÊNCIA O TEXTO ABAIXO

Mito da Caverna: verdade x mentira


Simone Nardi


Alegoria da Caverna é uma metáfora criada por Platão, onde o filósofo demonstra de que forma podemos nos tornar livres das sombras que nos aprisionam da verdadeira Luz. Esse texto encontra-se em seu livro A República (livro VII) onde ele também fala de ética e política, para um bem maior. Em forma de diálogo, Platão nos narra a seguinte visão:
"Seres humanos que, acorrentados no interior de uma caverna desde sua infância, apenas podem contemplar as sombras que são projetadas na parede, tendo como realidade, apenas aquela visão. Entretanto, um deles (o filósofo) consegue se libertar, seguindo o caminho que leva para fora da caverna. Contempla então a realidade, as idéias puras. Retorna para o interior da caverna a fim de mostrar aos outros que as sombras não são tudo que existe. No entanto, os demais, acostumados às sombras e acreditando que elas são toda a realidade, não dão ouvidos ao filósofo. Mais do que isso: acabam por "maltratá-lo."
Platão referia-se às crenças e tradições de seus contemporâneos, demonstrando como os homens dentro da caverna estão sendo condicionados a acreditar que só existe aquela realidade, e o homem que escapa seria aquele capaz de livrar-se das amarras dessas falsas crenças, seguindo então em busca da verdade. Ao falar dessa verdade aos homens que eram fiéis as antigas tradições e crenças pessoais, não seria ele aceito e nem compreendido. Essa metáfora demonstra a condição humana perante o Mundo; em termos de conhecimento, educação, ética, política e desejo de vencer nossa própria ignorância, a fuga do senso comum para uma visão mais organizada, lógica e verdadeira do Universo que nos cerca.
Tal realidade Platônica acontece hoje em dia e de uma forma tão simples que ninguém, ou quase ninguém, consegue se aperceber disso. No simples desenvolver-se do dia a dia, dentro de nossas casas, nos faróis, esse Mito está tão infiltrado dentro de nossas vidas, que passou a ser tão real quanto as sombras platônicas na caverna. Não vemos nada além daquilo que nos obrigaram a ver, não repetimos nada além daquilo que nos ensinaram a repetir, não mudamos nada em nós porque não desejamos ser como o prisioneiro que fugiu da caverna e que foi desacreditado, queremos ser iguais, acreditar no que todos acreditam, viver, como todos vivem.
Arthur Shopenhauer, filósofo alemão, disse um dia que a verdade atravessa três fases:
"Na primeira ela é ridicularizada; Na segunda contrariada; Na terceira, é aceita como o própria prova".
E o que nós fazemos diante de novas verdades? Será que aceitamos como o prisioneiro que fugiu da caverna? Ou será que ridicularizamos e maltratamos aquele que vem nos dizer a verdade? Vamos fazer esse exercício de reflexão.
Imaginemo-nos dentro da Caverna Platônica, sim, porque podemos até não acreditar, mas muitas pessoas permanecem ainda hoje dentro dessa Caverna, olhando para sombras e acreditando que aquilo seja a mais pura e autêntica realidade. Não temos correntes de aço e podemos nos libertar a qualquer momento, porém, embora as correntes não sejam de aço, elas existem de uma forma alegórica e são feitas com um material mil vezes mais resistente. O comodismo. Esse tipo de grilhão sufoca a mente e o corpo, e embora seja simbólico e não físico, acaba sendo ainda pior que as correntes de aço que Platão usava em sua teoria, pois na Teoria das Idéias elas prendiam somente a matéria, e a corrente do comodismo e da alienação prende a mente e a vontade de conhecer a realidade.
Pois bem, estamos na Caverna de nossos vícios, de nossos comodismos, agindo e vendo as mesmas coisas, do mesmo modo, há séculos em nossa parede mental, desde nossa tenra infância. Acostumamo-nos a isso, aquelas imagens, aquelas vozes, aquelas crenças pessoais e tradições seculares. Sendo moldados Ética, Moral e Esteticamente pelos padrões da nossa exigente sociedade, através das microrelações e dos micropoderes[1] que sofremos e que, poderemos vir a exercer sobre os outros. Eis que um dos prisioneiros se liberta, tal como no Mito da Caverna de Platão, e ao sair dessa escuridão ele se depara com a verdadeira realidade.
No início seus olhos doem ao contemplar a Luz da Verdade. Sua mente julga ser aquilo tudo uma mentira, pois não reconhece ali todo aquele "Conhecimento" que obtivera dentro da Caverna. Ele se assusta, pensa em voltar para dentro, pois se sente mais seguro ali. Mas algo o impede de retornar para dentro da Caverna ; O desejo pelo novo conhecimento, a descoberta, a visão de algo que desconhecia : A Luz da Verdade. Ele Muda, mesmo que sem reconhecer essa mudança.
E o que seria essa verdade ? Nietzsche, em seu livro "Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral" nos responde:
[...] a verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. (...)Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.
Mas um homem conseguiu escapar da Caverna, do rebanho social ao qual Nietzsche se refere, e esse homem, tal como o filosofo de Platão, volta para contar o que viu, porém os outros não acreditam nele e o maltratam. Ao tentar falar o que viu a esses homens que há tantos séculos vivem em "rebanhos", presos as suas crenças e superstições, seria chamado de mentiroso, uma ameaça a ordem natural[2], chamam a nova verdade de "mentira" e o excluem do rebanho. Essa punição é hoje, realizada de forma simbólica[3]·, às vezes um afastamento, a ridicularização, a completa negação através de uma agressividade emocional, tal como Schopenhauer já havia colocado. Eis que o Mito da Caverna de Platão se repete todos os dias de nossas vidas e reafirma a idéia de Nietzsche sobre a mentira que nos faz viver em sociedade:
"O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o exclui".
Essa é a punição ao homem moderno, a punição simbólica, a Exclusão. Assim é a luta pelos Direitos Animais. A esmagadora maioria das pessoas vive dentro da Caverna de Platão ou dentro do rebanho social de Nietzsche, imaginando que o Mundo é somente aquilo no que as fizeram acreditar. As pessoas dessa moderna Caverna social acreditam que a carne que chega ao seu prato lhes é extremamente necessária, pois uma sombra projetada na parede as ensinou isso; do mesmo modo passam a acreditar que o animal que foi assassinado nada sofreu, nem antes ou durante o crime, pois as imagens que se refletem na parede de sua Caverna mental são belas, meigas e carinhosas, de forma a moldá-las docilmente aos desejos sociais. Fomos condicionados a imaginar vaquinhas pastando em campos verdes, com seus bezerrinhos felizes e saltitantes. Projetaram em nossas mentes, desde tenra idade, porquinhossorridentes fazendo propaganda de toucinho. Nossos pais nos faziam assistir desenhos animados onde pássaros comiam filés descomunais, onde os animais comem lanches de pão com presunto embora tenham entre si, laços de amizade . Vemos a todo instante, imagens coloridas de vaquinhas felizes nas caixas de leite e bois atléticos pastando alegremente enquanto mostram a carne de primeira que as pessoas devem comprar. Assistimos inertes um franguinho alegre que senta-se a mesa para apreciar a suculenta carne de frango e de peru, seus primos em espécie, e nos extasiamos ao ver uma propaganda com paisagens paradisíacas onde são processadas as salsichas e as lingüiças, tudo arborizado, cheio de flores e feliz. Mas nunca nos perguntamos qual a real ligação entre os felizes animais ao qual nos condicionam a ver e a realidade dos animais que consumimos.
Mas lá vai nosso destemido "Filosofo"[4], libertando-se dos grilhões que lhe atavam a mente e, em sua loucura pela verdadeira Luz, escapa da Caverna e se depara com um Mundo Real e não um Mundo de Sombras e mentiras ao qual o acorrentaram durante tanto tempo. Ele assiste a agonia dos belos porquinhos que não fazem propaganda do toucinho porque descobre que se assim o fizessem, estariam vendendo a própria vida, então descobre que enquanto estava acorrentado, era-lhe impossível fazer essa conexão entre a vida e a morte de seres que lhe ensinaram, não possuíam qualquer valor. Ele começa a ver que os bois atléticos que vendiam a si e a seus irmãos, hoje correm de medo ao sentir o cheiro da morte de seus companheiros; que na maioria das vezes, por causa de uma produção que precisa aumentar a cada dia, a pistola pneumática não funciona 100% e eles acordam sentindo a dor de uma garganta dilacerada, enquanto aspiram o odor de seu próprio sangue que se espalha, toda vez que seu apavorado coração pulsa. Ele enfim descobre que a vaquinha da caixa de leite, produz leite acima da média porque toma hormônios e que suas tetas incham e ficam inflamadas pela mastite depois, quando não serve mais, é arrastada para qualquer frigorífico para virar ração animal, já que sua carne não serve para alimentação do rebanho humano. Que seu bezerrinho não fica saltitante pelo campo como lhe mostraram, mas que desde tenra idade é impedido de mamar, sendo retirado de sua mãe para ser confinado por 2 a 3 meses, amarrado, sem espaço para poder movimentar-se, ficando anêmico para que alguns apreciem sua carne clara, levemente rosada, a carne de um filhote que sofreu desde seu nascimento, um bezerrinho igual ao daquele desenho[5] que ele assistiu e o qual hoje, seu próprio filho assiste. Ele descobre que na verdade, aquele "Paraíso" no qual o fizeram acreditar, onde os animais eram felizes e não sofriam, não passa de um "Inferno" de dor e agonia, uma realidade virtual que nos engana, nos impedindo de presenciar a realidade.
"(...) o intelecto ilude, dissimula, forja imagens luminosas, tudo para lançar um véu sobre esse fundo trágico e assim continuar vivendo[6]."
E o filosofo volta a Caverna para contar o que viu, e sabemos o que acontece tanto na visão de Platão, quanto na visão de Nietzsche e Schopenhauer. A maioria o chama de louco, outros o maltratam e o excluem do rebanho; uns poucos se arriscam a sair da Caverna para presenciar a Verdade, porém, a grande maioria prefere continuar vivendo na escuridão, na segurança daquele rebanho social, porque a realidade os fará mudar e se eles mudarem, poderão acabar excluídos; "E "assim continuar vivendo". Somente a coragem e a determinação na busca pela verdade podem libertar os homens das correntes mentais do comodismo, essas, muito mais fortes do que os grilhões de aço. O que podemos afirmar é que, após tantos Séculos de escuridão, a grande maioria das pessoas ainda sente medo de mudar, elas sentem medo do novo e preferem ignorar a palavra daquele que presenciou a realidade, preferindo enxergar somente o que existe nas sombras de suas paredes mentais.
Nesse exato momento, enquanto o "Filósofo" tenta mostrar a verdade, muitos ainda o estão ridicularizando e dizendo : "Não, isso não é a verdade, os animais foram criados para nos servir, nós precisamos de proteínas, precisamos da carne, existe o abate humanitário, sem dor, os animais não sofrem, esse bife que como, nada mais é que um simples pedaço de carne, não há vida por detrás dele, não desejo saber como ele chegou aqui, só quero fazer o que sempre fiz, agir como fui condicionado a agir, falar e pensar como me condicionaram a falar e pensar". E essas palavras continuam soprando em sua parede mental, palavras que não são dela, palavras que lhe foram ditas, imagens que lhe foram projetadas para que ela pudesse ser mais um, entre o rebanho que pensa igual, que age igual, que se sente na realidade mesmo que aprisionada pelos grilhões do comodismo e da alienação mental. Ela acredita naquilo que lhe mostram, não questiona, não vai além, não se permite pensar por si mesma, fazer algo fora disso é opor-se a sociedade e tal coisa é passível de punição, de exclusão social e ela precisa permanecer ligada a sociedade.
A verdade e a mentira são ditas a partir do critério da utilidade ligada à paz no rebanho. Assim, os gestos, as palavras e os discursos que manifestem uma experiência individual própria em oposição ao rebanho, ou não são compreendidos ou trazem mesmo perigo para aqueles que assim se mostrem.[7]
E não faltam exemplos da incompreensão dessa realidade em argumentos que atravessam os anos, repetitivos e condicionantes, além de totalmente úteis a "paz do rebanho", porém sem bases morais nos quais se fundarem. Quantas vezes não ouvimos alguém repetir frases do tipo: "Nós podemos comer carne porque muitos animais selvagens fazem isso". Não pensam, porém, no que implica buscar bases morais em seres que ela foi condicionada a crer, são inferiores a ela, seu grau de "domesticação" é tão alto que ela não consegue perceber que, ao buscar essa base moral nos animais, equipara-se a tudo o que nega a eles, descendo a uma condição que tanto busca para se distanciar dos animais, a de inferioridade e falta de capacidade intelectual. Sim, aqueles mesmos animais que nós, os acorrentados, chamamos de selvagens porque matam e porque são irracionais, nos servem agora de parâmetro ético e moral para que nos perdoemos pela morte e tortura que lhes infligimos. Mas nós podemos, porque nós somos inteligentes, nós temos nossa "própria opinião", eles o fazem porque são selvagens. Nós sabemos a verdade e encaramos como natural[8] a morte de milhões de animais. Além disso, nós não os matamos, nós somos "limpos", pagamos para que façam isso por nós. Apesar de "nossa opinião própria", que temos e é "nossa", ouvimos alguém dizer que é natural, que faz parte da cadeia alimentar, além disso, "nos foi dito" que os animais não são nada, e acreditamos, mas é "nossa" opinião pessoal, não roubamos de ninguém...
As pessoas que se fundam nesses argumentos são incapazes de notar um detalhe: Em nenhum momento elas passaram o que lhes foi exposto pelo crivo da razão, da curiosidade, do "estranhamento". Simplesmente aceitaram como Imperativo Categórico[9] o que lhes foi mostrado na parede da Caverna: "Se os homens da caverna comiam carne, nós também podemos comer. Se isso é feito há séculos, é porque deve ser verdade. Porque se meus antepassados viviam assim, eu também posso viver. Não há razão para pensar quando é mais fácil aceitar a imposição social. Para que descobrir a verdade quando se podemos aceitar as verdades dos outros?
E assim nos negamos a deixar nossa Caverna Mental, nosso Rebanho Social, porque ele nos assegura o direito de continuarmos ignorantes sobre o que ocorre com o destino dos animais. Porque nossa caverna e nossos grilhões nos permitem permanecermos cegos e surdos, porque nos permite continuar a ser o que os outros já foram, e é desse modo que ensinaremos nossos filhos e os filhos de nossos filhos. Não queremos saber o que poderíamos ter feito ou o que poderíamos ter sido, não queremos deixar esse lugar seguro que nos mostra sombras que nos alegram, mentiras nas quais desejamos continuar acreditando.
Dentro da Caverna nós não somos o que queremos ser, não vemos o que queremos ver, não pensamos o que queremos pensar, nós somos o que os homens de um passado distante foram e nos adestraram a ser. Nós não acreditamos no que queremos acreditar, acreditamos nas mentiras que nos contaram e que nos foram mostradas em nossa parede mental, porque achamos que seria mais fácil nos encaixarmos numa sociedade racista, sexista, especista e mais do que tudo, egoísta. Queremos ser o que "eles", pessoas que nem ao menos conhecemos, foram, queremos agir como "eles" agiram, porque sabemos que, como o Filosofo que escapou da Caverna e vislumbrou a verdade sendo curado de sua ignorância, se fizermos o mesmo, iremos parecer estranhos a essa sociedade, incompreendidos, ridicularizados e queremos, não, nós precisamos ser aceitos; queremos ser iguais a todos, afinal é mais fácil viver assim, nas sombras, escondidos em meio a um imenso rebanho.
E surge a questão:o que somos para nós mesmos enquanto dentro da Caverna? O que representamos para o Mundo enquanto levamos essa vida social em forma de rebanho?
Se acreditarmos que é tudo muito natural, que os animaizinhos vivem e morrem felizes para servirem de comida, diversão, agasalhos para nós, os seres racionais, é porque estamos assistindo as sombras passando na parede da Caverna Platônica, distantes da verdadeira Luz da Sabedoria e do Conhecimento. Acreditamos que essa seja a realidade, embora não seja, e tememos mudar.
Se soubermos que eles sofrem e mesmo assim não nos preocuparmos com seu destino, precisamos parar e descobrir o que há de errado conosco. Pois se sabemos que causamos dor e aflição e apreciamos isso, talvez seja porque nos sintamos fracos para reagir, e isso é sinal de covardia, não queremos lutar contra as ondas e preferimos seguir junto com a maré, leve-nos ela para onde nos levar. O mesmo se dá se acreditamos que escolhendo vidas que devam ser salvas enquanto outras possam ser mortas, estamos sendo éticos, ainda sim estaremos nas sombras, pois estaremos usando de dois tipos de ética, a verdadeira e a utilitária . A utilitária, aquela que nos satisfaz e nos alegra e a verdadeira, aquela que valeria universalmente para todos os seres. Acreditamos ser éticos quando na verdade não sabemos o que realmente significa ética.
Se conseguirmos dar os primeiros passos para fora da Caverna, se formos capazes de nos separar dos grilhões mentais dos demais aprisionados e, se conseguimos olhar para o Sol enxergando em sua Luz, a Verdade,a Realidade, dificilmente nos omitiremos de tomar uma atitude em relação a vida. Seremos o filósofo que escapou da caverna, que através da dialética foi buscar respostas a fim de eliminar primeiramente o senso comum a visão de todos dentro da caverna, depois as hipóteses para finalmente se pautar em argumentos seguros se desvencilhando das mentiras que lhe eram impostas
Sempre haverá aqueles que não desejarão, os cegos e surdos, os egoístas, de quem nada se poderá esperar além de sombras. Mas também sempre haverá aqueles que, em meio a multidão, conseguirão erguer a cabeça e contemplar o Sol da verdade. São aqueles que não terão medo de sair da alienação mental que acorrenta a sociedade e que aprenderão a viver com a verdade ao invés de permanecer na mentira.
Einstein explicou isso de forma sutil ao dizer: "Quando uma mente se abre à uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original. Quando se sai da Caverna e se enxerga a realidade, se torna impossível conviver com a mentira.

ASSISTA A ESSE VÍDEO PARA COMPREENDER A PASSAGEM DO MITO PARA A RAZÃO.



FILOSOFIA ANTIGA - MITO E RAZÃO

PARA A PRÓXIMA AULA - ASSISTA EM CASA A ESSE VÍDEO E FAÇA UM TEXTO COM SUAS CONCLUSÕES

A TODOS NÓS HUMANOS QUE ESPERAMOS E ESPERAMOS
PENSE: O QUE É O SER HUMANO???
O QUE SERÁ QUE NÓS ESPERAMOS E ESPERAMOS E NUNCA CHEGA???
SERÁ QUE EXISTE ALGUMA RELAÇÃO ENTRE ESSE QUESTIONAMENTO E O APARECIMENTO DAS RELIGIÕES???

AULA 19/02 - VÍDEO - VÔMITO DESNECESSÁRIO

DEBATE FILOSÓFICO
1. APÓS ASSISTIR AO VÍDEO , TEREMOS UM TEMPO DE CINCO MINUTOS PARA REFLEXÃO INDIVIDUAL.
2. APÓS A REFLEXÃO IREMOS TRABALHAR COM AS POSSIBILIDADES DE ANÁLISE DESENCADEADAS PELO VÍDEO.
3. FILOSOFAR Á CRIAR ARGUMENTOS VÁLIDOS, OPINIÕES SÓLIDAS.
PENSAR.... EIS O DESTINO QUE O HOMEM NÃO CONSEGUE QUEBRAR!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

CURIOSIDADES: O QUE É LENDA.

O QUE É LENDA?
JEAN-PIERRE

A palavra lenda provém do baixo latim legenda, que significa “o que deve ser lido”. No princípio, as lendas constituíam uma compilação da vida dos santos, dos mártires (Voragine); eram lidas nos refeitórios dos conventos.
Os contos de animais são fábulas redigidas em prosa.
O mito é uma forma de lenda; mas os personagens humanos tomam-se divinos; a ação é então sobrenatural e irracional. O tempo nada mais é do que uma ficção. Se me contassem a Pele de burro sentiria um extremo prazer.
Este divertimento do povo é sua aspiração secreta, sua busca espiritual de um mundo maravilhoso onde impere o valor do homem, onde as leis, tão detestadas, sejam abolidas.
A lenda existe desde a formação do clã, da sociedade e os temas se desenvolvem com preocupações semelhantes em todas as culturas. Considerando os animais que falam e as leis da metempsicose, parece ser a fábula um produto espontâneo da Índia.
Nestes últimos anos, a escola folclorista compilou contos semelhantes aos da Índia, em todos os países. Portanto, os mitos se divulgaram através do tempo e do espaço.
A divulgação dos contos talvez nos surpreenda em função da época mas, na realidade, os países se comunicavam entre si muito antes das viagens de Cristóvão Colombo, Magellan ou Marco Polo. 3. — Os temas transcrição do pensamento do povo, os temas simbolizam suas aspirações. As mulheres, prisioneiras dos hábitos, vivem sob a dependência do homem: as princesas terão liberdade e o rei será passivo. A lenda religiosa deveria se utilizar do antagonismo entre a dualidade da alma humana. A psicanálise interpretará os contos da mesma forma que os sonhos. A lenda do Cid, criada quarenta anos depois da morte do herói, é de composição diferente da de Rolando, escrita duzentos e setenta anos depois de Roncesvales.
Perrault, quando publicou, na editora Barbin (Paris), em 1697, suas Histoires ou Contes du temps passé, abriu caminho aos irmãos Grimm que compilavam os contos ouvidos da boca dos camponeses de Hesse, em 1810. Walter Scott fez o mesmo na Inglaterra, em 1820, aproximadamente. Saintyves assim o definiu: “É a ciência da vida popular no seio de sociedades civilizadas.” Essa cultura tradicional, devida à massa popular à margem do ensino oficial, tem uma base permanente que, apesar de incompleta, assegurou definitivamente a estabilidade das sociedades sucessivas.

Quer ler o livro na íntegra? pegue-o grátis
http://www.ebooksbrasil.org/nacionais/ebooklibris.html

ATIVIDADES PARA O 1A E O 2B - EXERCENDO A CAPACIDADE DE ANÁLISE, REFLEXÃO E ARGUMENTAÇÃO.

FORAM POSTADOS QUATRO TEXTOS RELACIONADOS AO MITO. INDIVIDUALMENTE, FAÇA UMA LEITURA DOS TEXTOS POSTADOS E ESTABELEÇA UMA RELAÇÃO ENTRE O PENSAMENTO DE JOSEPH CAMPBELL E OS TRÊS MITOS NARRADOS. PROCURE PRINCIPALMENTE DEMONSTRAR COMO O MITO SIGNIFICAVA PARA OS POVOS ANTIGOS A SEGURANÇA EM MEIO A TANTOS "MEDOS" E "INSEGURANÇAS" QUE DOMINAVAM AQUELE UNIVERSO.ESCREVA A RESPOSTA NO CADERNO.


ATENÇÃO: OS ALUNOS 1,2 E 3 DE CADA SÉRIE DEVERÃO POSTAR UM COMENTÁRIO A RESPEITO DO PODER DO MITO NAS SOCIEDADES ANTIGAS.


BOM TRABALHO.

PAULÃO

A ORIGEM DO MUNDO A PARTIR DO MUNDO III



A ponte entre o Orum e o Aiyê



Todas as religiões do mundo tentam explicar os grandes mistérios da humanidade: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?
Reza uma história africana, originária de Ketu, que no início de tudo havia o Orum, o espaço infinito, e lá vivia o deus supremo Olorum. Certo dia, Olorum criou uma imensa massa de água, de onde nasceu o primeiro orixá: Oxalá, o único capaz de dar vida. Olorum mandou Oxalá partir e criar o aiyê, o mundo. Só que Oxalá não fez as oferendas necessárias para a viagem e enfrentou sérios problemas no caminho.
Quem acabou criando o mundo foi Odudua, sua porção feminina. Para consolar Oxalá, o deus supremo lhe deu outra missão: a de inventar os seres que habitariam o aiyê. Assim Oxalá usou a água branca e a lama marrom para criar peixes azuis, árvores verdes e homens de todas as cores. Foram justamente os homens que, mais tarde, imaginaram formas de adorar e representar a saga de deuses como Oxalá, Odudua, Olorum e tantos outros.

A ORIGEM DO MUNDO A PARTIR DO MITO II




A Criação do Mundo: uma História dos índios Tukano

Os índios Tukano vivem na região noroeste do Amazonas, nas áreas do rio Uaupés. A história a seguir foi contada por índios Tukano do clã Ye'pârã-Oyé põ'ra.

Quando o mundo ainda não estava pronto já havia Imîkoho-yeki, o Avô do Mundo. Ele andava sozinho pelos lugares pensando em como ordenar o mundo.
Sem encontrar solução, ele foi à Casa do Céu. Lá acendeu um cigarro e ficou pensando. Foi então que da fumaça do cigarro surgiu uma mulher. Ela era Ye'pâ-masó, aquela que seria conhecida como a Avó do Mundo e do Surgimento.
O Avô do Mundo ficou contente e entregou à mulher os instrumentos de vida e surgimento que possuia: cigarro, cuias, um banco entre outras coisas. A Avó do Mundo, Ye'pâ-masó, desceu até a terra, no igarapé Posâya. Lá surgiram três bancos com os desenhos do banco da vida. Ela sentou-se e começou a fumar seu cigarro.
Da primeira baforada surgiram Imîkoho-masí e Ye'pa-masí. Os dois foram os primeiros a viver na terra e deram início a todos os homens que vieram depois

A ORIGEM DO MUNDO A PARTIR DOS MITOS - PARTE I


No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
(...)
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.
(Gênesis, cap. 1 ver. 1-5; 26-31

O PODER DO MITO!!! LEIA ESSA ENTREVISTA PARA COMPREENDER A NECESSIDADE DO MITO.

SELECIONEI TRECHOS DA ENTREVISTA CONCEDIDA POR JOSEPH CAMPBELL. QUEM DESEJAR LER A ENTREVISTA INTEIRA DEVERÁ ACESSAR:

http://www.culturabrasil.pro.br/campbell.htm

O Mito e o Mundo Moderno

Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

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MOYERS: Por que mitos? Por que deveríamos importar nos com os mitos? O que eles têm a ver com minha vida?

CAMPBELL: Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito em ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?

Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição – Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros, que falam dos valores eternos, que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse centro, você vai sofrer.

As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservavam, de hábito, na mente das pessoas. Quando a história está em sua mente, você percebe sua relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá perspectiva ao que lhe está acontecendo. Com a perda disso, perdemos efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. Esses bocados de informação, provenientes dos tempos antigos, que têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, que construíram civilizações e enformaram religiões através dos séculos, têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares da travessia, e se você não souber o que dizem os sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por sua conta. Mas assim que for apanhado pelo assunto, haverá um tal senso de informação, de uma ou outra dessas tradições, de uma espécie tão profunda, tão rica e vivificadora, que você não quererá abrir mão dele.

MOYERS: Quer dizer que contamos histórias para tentar entrar em acordo com o mundo, para harmonizar nossas vidas com a realidade?

CAMPBELL: Penso que sim. Romances – grandes romances – podem ser excepcionalmente instrutivos. Nos meus vinte e nos meus trinta, até nos meus quarenta anos, James Joyce e Thomas Mann eram meus professores. Eu lia tudo o que eles escreveram. Ambos escreveram em termos do que se poderia chamar de tradição mitológica. Tome, por e xemplo, a história de Tonio, no Tonio Kröger, de Thomas Mann. O pai de Tonio era um sólido homem de negócios, um cidadão de relevo em sua cidade natal. O pequeno Tonio, porém, tinha um temperamento artístico, por isso mudou se para Munique e reuniu se a um grupo de literatos, que se sentiam superiores aos meros ganhadores de dinheiro e aos homens de família.

Assim, eis aí Tonio dividido entre dois pólos: seu pai, que era um bom pai, responsável e tudo o mais, mas que nunca tinha feito o que queria, em toda a sua vida; e, por outro lado, aquele que deixa sua cidade natal e assume uma atitude crítica em relação à vida que se levava lá. Mas Tonio descobriu que de fato amava a gente de sua cidadezinha. E embora se julgasse um pouco superior a eles, em termos intelectuais, e pudesse falar deles com palavras cortantes, seu coração, apesar de tudo, estava com eles.

Mas quando partiu, para viver com os boêmios, descobriu que estes tinham tal desdém pela vida que tampouco poderia viver com eles. Por isso deixou os e e screveu uma carta a um do grupo, dizendo: “Admiro aqueles seres frios e orgulhosos que se arriscam nos caminhos da beleza elevada e diabólica e menosprezam a ‘humanidade’; mas não os invejo. Pois se alguma coisa é capaz de fazer de um literato um poeta, essa coisa é o amor de minha cidade natal pelo humano, aquilo que existe e é comum. Todo calor deriva desse amor, toda doçura e todo humor. De fato, quanto a mim, creio mesmo que esse amor deve ser aquele sobre o qual está escrito que se pode ‘falar com a língua dos homens e dos anjos’, que no entanto soa, quando o amor falta, ‘como metal ruidoso ou címbalo tilintante’”.

Em seguida, ele diz que “o escritor deve ser verdadeiro para com a verdade”. E ele é um assassino, porque a única maneira de você descrever verdadeiramente um ser humano é através de suas imperfeições. O ser humano perfeito é desinteressante – o Buda que abandona o mundo, você sabe. As imperfeições da vida é que são apreciáveis. E, quando lança o dardo de sua palavra verdadeira, o escritor fere. Mas o faz com amor. É o que Mann chamava “ironia erótica”, o amor por aquilo que você está matando com sua palavra cruel, analítica.

MOYERS: Tenho muito carinho por essa imagem: o amor de minha cidade natal, o sentimento que você tem por esse lugar, não importa por quanto tempo esteve ausente, mesmo que nunca retorne. Foi lá que você descobriu as pessoas pela primeira vez. Mas por que você diz que ama as pessoas por suas imperfeições?

CAMPBELL: As crianças não são adoráveis porque estão caindo a todo instante e porque têm o corpo pequeno e a cabeça muito grande? Walt Disney não sabia tudo a respeito quando concebeu os sete anões? E esses divertidos cachorrinhos que as pessoas têm – eles não são adoráveis por serem tão imperfeitos?

MOYERS: A perfeição s eria algo tedioso, não seria?

CAMPBELL: Teria de ser. Seria desumano. O umbilical, a humanidade, aquilo que se faz humano e não sobrenatural e imortal – isso é adorável. É por essa razão que algumas pessoas têm dificuldade em amar a Deus; nele não há imperfeição alguma. Você pode sentir reverência, mas isso não é amor. É o Cristo na cruz que desperta nosso amor.

MOYERS: O que você quer dizer com isso?

CAMPBELL: Sofrimento. Sofrimento é imperfeição, não é?

MOYERS: A história do sofrimento humano, a luta, a vida...

CAMPBELL: ...e a juventude chegando ao conhecimento de si mesma, ela tem que passar por isso.

MOYERS: Através da leitura de seus livros – The Masks of God e The Hero with a Thousand Faces – vim a compreender que aquilo que os seres humanos têm em comum se revela nos mitos. Mitos são histórias de nossa busca da verdade, de sentido, de significação, através dos tempos. Todos nós precisamos contar nossa história, compreender nossa história. Todos nós precisamos compreender a morte e enfrentar a morte, e todos nós precisamos de ajuda em nossa passagem do nascimento à vida e depois à morte. Precisamos que a vida tenha significação, precisamos tocar o eterno, compreender o misterioso, descobrir o que somos.

CAMPBELL: Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. É disso que se trata, afinal, e é o que essas pistas nos ajudam a procurar, dentro de nós mesmos.

MOYERS: Mitos são pistas?

CAMPBELL: Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.

MOYERS: Aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente?

CAMPBELL: Sim.

MOYERS: Você mudou a definição de mito, de busca de sentido para experiência de sentido.

CAMPBELL: Experiência de vida. A mente se ocupa do sentido. Qual é o sentido de uma flor? Há uma história zen sobre um sermão do Buda, em que este simplesmente colheu uma flor. Houve apenas um homem que demonstrou, pelo olhar, ter compreendido o que o Buda pretendera mostrar. Pois bem, o próprio Buda é chamado “aquele que assim chegou”. Não faz sentido. Qual é o sentido do universo? Qual é o sentido de uma pulga? Está exatamente ali. É isso. E o seu próprio sentido é que você está aí. Estamos tão empenhados em realizar determinados feitos, com o propósito de atingir objetivos de um outro valor, que nos esquecemos de que o valor genuíno, o prodígio de estar vivo, é o que de fato conta.

TEXTO 2 - O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e inicio do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. O primeiro filósofo foi Tales de Mileto.A filosofia também possui um conteúdo ao nascer: é uma cosmologia, (cosmos = mundo ordenado e organizado/ logia = pensamento racional, discurso racional, conhecimento). Assim a filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da natureza, donde cosmologia.O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços principais:· Tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa;· Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocando um problema, sua solução é submetida a analise, à crítica, à discussão e à demonstração, nunca sendo aceita como uma verdade, se não for provado racionalmente que é verdadeira;· Exigência que o pensamento apresente suas regras de funcionamento, isto é, o filosofo é aquele que justifica suas idéias provando que segue regras universais do pensamento. Para os gregos, é uma lei universal do pensamento que a contradição indica erro ou falsidade. Uma contradição acontece quando afirmo e nego a uma coisa sobre a mesma coisa. Assim, quando uma contradição aparecer numa exposição filosófica, ela deve ser considerada falsa;· Recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que, para cada problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele;· Tendência à generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas diferentes porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o pensamento descobre semelhanças e identidades.Reunindo semelhanças, o pensamento conclui que se trata de uma mesma coisa que aparece para nossos sentidos de maneiras diferentes, e como se fossem coisas diferentes. O pensamento generaliza por que abstrai, ou seja, realiza uma síntese.E o contrário também ocorre. Muitas vezes nossos órgãos dos sentidos nos fazem perceber coisas diferentes como se fossem a mesma coisa, e o pensamento demonstrará que se trata de uma coisa diferente sob a aparência da semelhança. Separando as diferenças, o pensamento realiza, neste caso, uma análise.As principais condições históricas para o surgimento da filosofia na Grécia foram:- As viagens marítimas: permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs, e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos. As viagens produziram a desmistificação do mundo, que passou assim, a exigir uma explicação sobre sua origem;- A invenção do calendário: que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando com isso, uma capacidade de abstração nova, ou a percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível;- A invenção da moeda: permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização;- O surgimento da vida urbana: com o predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue, fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a filosofia poderia surgir;- A invenção da escrita alfabética: que como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve;- A invenção da política: que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia: 1 – a idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. Servirá de modelo para a filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. 2 – o surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão, e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso filosófico. 3 – a política estimula um discurso que procura ser público, ensinado, transmitido, comunicado e discutido. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir é fundamental para a filosofia.A filosofia terá, no correr dos séculos, um conjunto de preocupações, indagações e interesses que lhe vieram de seu nascimento na Grécia.
Adaptado de: CHAUI, Marilena “Convite à Filosofia”, 6a edição, editora Ática, São Paulo – SP, 1997

TEXTO 1 - FILOSOFAR - LEIA O TEXTO E ESCREVA SUAS CONCLUSÕES EM SEU CADERNO.

FILOSOFAR

André Comte-Sponville
Filosofia: doutrina e exercício da sabedoria (e não simples ciência) - KANT




Filosofar é pensar por conta própria; mas só se consegue fazer isso de um modo válido apoiando-se primeiro no pensamento dos outros, em especial dos grandes filósofos do passado. A filosofia não é apenas uma aventura; também é um trabalho, que requer esforços, leituras, ferramentas. Os primeiros passos costumam ser rebarbativos, e já desanimaram mais de um.
...
O que é a filosofia? Já me expliquei muitas vezes a esse respeito, e faço-o mais uma vez. A filosofia não é uma ciência, nem mesmo um conhecimento; não é um saber a mais: é uma reflexão sobre os saberes disponíveis. É por isso que não se pode aprender filosofia, dizia Kant: só se pode aprender a filosofar. Como? Filosofando por conta própria: interrogando-se sobre seu próprio pensamento, sobre o pensamento dos outros, sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre o que a experiência nos ensina, sobre o que ela nos deixa ignorar... Encontrar no caminho as obras deste ou daquele filósofo profissional, é o que se deve desejar. Com isso pensaremos melhor, mais intensamente, mais profundamente. Iremos mais longe e mais depressa. Mas esse autor, acrescentava Kant “não deve ser considerado o modelo do juízo, mas simplesmente uma ocasião de se fazer um juízo sobre ele, até mesmo contra ele”.
Ninguém pode filosofar em nosso lugar. É evidente que a filosofia tem seus especialistas, seus profissionais, seus professores. Mas ela não é uma especialidade, nem uma profissão, nem uma disciplina universitária: ela é uma dimensão constitutiva da existência humana. Uma vez que somos dotados de vida e de razão, coloca-se para todos nós, inevitavelmente, a questão de articular uma à outra essas duas faculdades. É claro que podemos raciocinar sem filosofar (por exemplo, nas ciências), viver sem filosofar (por exemplo, na tolice ou na paixão). Mas não podemos, sem filosofar, pensar nossa vida e viver nosso pensamento: já que isso é a própria filosofia.
A biologia nunca dirá a um biólogo como se deve viver nem se se deve, nem mesmo se se deve fazer biologia. As ciências humanas nunca dirão o que a humanidade vale, nem o que elas mesmas valem. Por isso é necessário filosofar: porque é necessário refletir sobre o que sabemos, sobre o que vivemos, sobre o que queremos, e porque nenhum saber basta para empreender essa reflexão nem nos dispensa dela. A arte? A religião? A política? São grandes coisas, mas também devem ser interrogadas. Ora, a partir do momento em que as interrogamos, ou nos interrogamos sobre elas um pouco profundamente, saímos delas, pelo menos em parte: já damos um passo para dentro da filosofia. Nenhum filósofo contestará que esta, por sua vez, tenha de ser interrogada. Mas interrogar a filosofia não é sair dela, é entrar nela.
Por que caminho? Segui aqui o único que conheço de fato, o da filosofia ocidental. O que não quer dizer que não haja outros. Filosofar é viver com a razão, que é universal. Como a filosofia poderia ser reservada a alguém? Ninguém ignora que há, especialmente no Oriente, outras tradições especulativas e espirituais. Mas não dá para falar de tudo e seria ridículo, de minha parte, pretender apresentar pensamentos orientais que só conheço, na maioria, de segunda mão. Não creio que a filosofia seja exclusivamente grega e ocidental. Mas, evidentemente, como todo o mundo, estou convencido de que há no Ocidente, desde os gregos, uma imensa tradição filosófica, que é a nossa, e é para ela, é nela, que gostaria de guiar o leitor.
Viver com a razão, dizia eu. Isso indica uma direção, que é a da filosofia, mas não poderia esgotar seu conteúdo. A filosofia é questionamento radical, busca da verdade global ou última (e não, como nas ciências, desta ou daquela verdade particular), criação e utilização de conceitos (mesmo que isso também se faça em outras disciplinas), reflexividade (volta do espírito ou da razão para si mesmo: pensamento do pensamento), meditação sobre sua própria história e sobre a história da humanidade, busca da maior coerência possível, da maior racionalidade possível (é a arte da razão, por assim dizer, mas que desembocaria numa arte de viver), construção, às vezes, de sistemas, elaboração, sempre, de teses, de argumentos, de teorias... Mas também é, e talvez antes de mais nada, crítica das ilusões, dos preconceitos, das ideologias. Toda filosofia é um combate. Sua arma? A razão. Seus inimigos? A tolice, o fanatismo, o obscurantismo. Seus aliados? As ciências. Seu objeto? O todo, com o homem dentro. Ou o homem, mas no todo. Sua finalidade? A sabedoria: a felicidade, mas na verdade. Tem pano para muita manga, como se diz; ainda bem, porque os filósofos gostam de arregaçá-las!
Na prática, os objetos da filosofia são incontáveis: nada do que é humano ou verdadeiro lhe é estranho. Isso não significa que todos tenham a mesma importância. Kant, numa passagem célebre da sua Lógica, resumia o domínio da filosofia em quatro questões: Que posso saber? Que devo fazer? O que me é permitido esperar? O que é o homem? “As três primeiras questões remetem à última”, observava Kant. Mas as quatro desembocam, eu acrescentaria, numa quinta, que é sem dúvida, filosófica e humanamente, a questão principal:
Como viver? A partir do momento em que tentamos responder a essa pergunta de modo inteligente, fazemos filosofia. E, como não se pode evitar de formulá-la, é forçoso concluir que só se escapa da filosofia por tolice ou obscurantismo.
Deve-se fazer filosofia? Uma vez que fazemos essa pergunta, em todo caso, uma vez que tentamos responder a ela seriamente, já estamos fazendo filosofia. Isso não quer dizer que a filosofia se reduza à sua própria interrogação, menos ainda à sua autojustificação. Porque também fazemos filosofia, pouco ou muito, bem ou mal, quando nos interrogamos (de maneira ao mesmo tempo racional e radical) sobre o mundo, sobre a humanidade, sobre a felicidade, sobre a justiça, sobre a liberdade, sobre a morte, sobre Deus, sobre o conhecimento... E quem poderia renunciar a fazê-lo? O ser humano é um animal filosofante: só pode renunciar à filosofia renunciando a uma parte da sua humanidade.
É preciso filosofar, portanto: pensar tão longe quanto pudermos, e mais longe do que sabemos. Com que finalidade? Uma vida mais humana, mais lúcida, mais serena mais razoável, mais feliz, mais livre... É o que se chama tradicionalmente de sabedoria, que seria uma felicidade sem ilusões nem mentiras. Podemos alcançá-la? Nunca totalmente, sem dúvida. Mas isso não nos impede de tender a ela, nem de nos aproximar dela. “A filosofia”, escreve Kant, “é para o homem esforço em direção à sabedoria, esforço sempre não consumado.” Mais uma razão para empreender esse esforço sem mais tardar. Trata-se de pensar melhor para viver melhor. A filosofia é esse trabalho; a sabedoria, esse repouso.
O que é a filosofia? As respostas são tão numerosas, ou quase, quantos os filósofos. O que não impede, todavia, que elas se cruzem ou convirjam para o essencial. No que me diz respeito, tenho um fraco, desde os meus anos de estudo, pela resposta de Epicuro: “A filosofia é uma atividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona a vida feliz.” É definir a filosofia por seu maior êxito (a sabedoria, a beatitude), o que, mesmo que o êxito nunca seja total, é melhor do que encerrá-la em seus fracassos. A felicidade é a meta; a filosofia, o caminho. Boa viagem a todos!
In: Comte-Sponville, André. Apresentação da filosofia. São Paulo. Martins Fontes,2002. pg.